sexta-feira, 20 de junho de 2025

Aos Participantes da 2ª Conferência Anual sobre Inteligência Artificial, Ética e Governança Empresarial

Na ocasião desta Segunda Conferência Anual de Roma sobre Inteligência Artificial, estendo meus melhores votos a todos os participantes. A vossa presença testemunha a necessidade urgente de reflexão profunda e debate constante sobre a dimensão inerentemente ética da inteligência artificial, assim como sobre sua gestão responsável. A esse respeito, estou feliz que o segundo dia da Conferência ocorra no Palácio Apostólico, um claro sinal do desejo da Igreja de participar desses debates que dizem respeito diretamente ao presente e ao futuro da nossa família humana.

Junto ao seu extraordinário potencial de trazer benefícios à família humana, o rápido desenvolvimento da inteligência artificial também levanta questões mais profundas sobre o uso correto dessa tecnologia na geração de uma sociedade global mais autenticamente justa e humana. 

Por sua parte, a Igreja deseja contribuir para um debate sereno e informado sobre essas questões urgentes, sublinhando, antes de tudo, a necessidade de avaliar as ramificações da inteligência artificial à luz do «desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade» (Nota Antiqua et nova, n. 6). Isso significa levar em conta o bem-estar da pessoa humana não apenas do ponto de vista material, mas também intelectual e espiritual; significa salvaguardar a dignidade inviolável de cada ser humano e respeitar as riquezas culturais e espirituais e a diversidade dos povos do mundo. Em essência, é necessário avaliar os benefícios e os riscos da inteligência artificial segundo esse critério ético superior.

A inteligência artificial, especialmente a generativa, abriu novos horizontes em muitos níveis diferentes, incluindo a melhoria da pesquisa em saúde e as descobertas científicas, mas também levanta perguntas preocupantes sobre suas possíveis repercussões na abertura da humanidade à verdade e à beleza, sobre nossa particular capacidade de compreender e elaborar a realidade. Reconhecer e respeitar o que caracteriza de forma única a pessoa humana é essencial para o debate sobre qualquer estrutura ética adequada para a gestão da inteligência artificial.

Todos nós, tenho certeza, estamos preocupados com as crianças e os jovens, e com as possíveis consequências do uso da inteligência artificial em seu desenvolvimento intelectual e neurológico. Nossos jovens devem ser ajudados e não obstruídos em seu caminho em direção à maturidade e à responsabilidade autêntica. Eles são nossa esperança para o futuro, e o bem-estar da sociedade depende de que lhes seja dada a capacidade de desenvolver os dons e as habilidades recebidos de Deus e de responder às exigências do tempo e às necessidades dos outros com um espírito livre e generoso. No final, a verdadeira sabedoria tem mais a ver com reconhecer o verdadeiro sentido da vida do que com a disponibilidade de dados

Texto integral aqui.

Aos Capitulares Franciscanos Conventuais e Trinitários

Bem-vindos, amados irmãos e irmãs! Saúdo em particular os Superiores-gerais - ambos foram confirmados - os Conselheiros e os Capitulares da Ordem dos Frades Menores Conventuais e da Ordem da Santíssima Trindade e dos escravos, assim como os delegados das Ordens Terceiras e dos grupos laicais.

Poder receber juntos Franciscanos e Trinitários fez-me lembrar uma pintura que se encontra na abside da Basílica de São João de Latrão, que representa uma audiência da qual esta poderia ser uma bonita evocação. Com efeito, a imagem mostra o Papa Inocêncio III que recebe São Francisco e São João de Mata juntos, a fim de honrar a sua grande contribuição para a reforma da vida religiosa.

É interessante observar que São Francisco é representado de joelhos, com um enorme livro aberto, quase como se estivesse prestes a dizer ao Pontífice: «Santidade, peço-lhe apenas para viver a regra do Santo Evangelho sine glossa» (cf. Test 14-15). São João de Mata, pelo contrário, está de pé e segura nas mãos a Regra que redigiu com o Pontífice. Se São Francisco mostra a sua docilidade à Igreja, apresentando o seu projeto não como próprio, mas como dádiva divina, São João de Mata mostra o texto aprovado, após o estudo e o discernimento, como ápice de um trabalho absolutamente necessário para realizar o propósito que Deus inspirou. As duas atitudes, longe de estar em contraste entre elas, iluminar-se-iam mutuamente, constituindo uma linha-guia para o serviço que desde então a Santa Sé desempenhou a favor de todos os carismas.

Caríssimos, gostaria de concluir este encontro com os Louvores a Deus Altíssimo, o triságio escrito por São Francisco: «Tu és santo, Senhor, único Deus, que realizas maravilhas. Tu és forte, Tu és grande, Tu és altíssimo, Tu és rei todo-poderoso, Tu, Pai santo, rei do céu e da terra» (Fontes Franciscanas, 261).

Texto completo aqui.

Aos Sacerdotes da Pontifícia Academia Eclesiástica


Estou feliz em vos encontrar hoje e em dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação. Dou as boas-vindas ao vosso Presidente, S. Exª. Dom Salvatore Pennacchio, ao vosso Prefeito dos Estudos, Mons. Gabriel Viola, e a vós, caros sacerdotes, que estais de volta da experiência do Ano Missionário, como um complemento à vossa formação na Pontifícia Academia Eclesiástica.

Na semana passada, ao encontrar vossos colegas da Alma mater dos diplomatas pontifícios, tive a oportunidade de reafirmar o valor dessa intuição formativa introduzida pelo meu venerado predecessor. Eu os exortei a serem e permanecerem «pastores com os pés no chão», para encarnar a figura do sacerdote a serviço do Papa nas Representações pontifícias, bem delineada no Quirógrafo Il ministero petrino, com o qual se quis dar um novo impulso à vossa milenar Instituição, que em breve celebrará o 325º aniversário de fundação.

Como afirmei em algumas ocasiões durante o recente Jubileu da Santa Sé, a preservação daquela solicitude por todas as Igrejas – própria do ministério que me foi confiado – necessita do fiel e insubstituível serviço da Secretaria de Estado e dos Representantes Pontifícios, com os quais vós começareis a colaborar em breve.

Por isso, exorto também a vós a exercerdes o dom do vosso sacerdócio com humildade e mansidão, capacidade de escuta e proximidade, como fiéis e incansáveis discípulos de Cristo Bom Pastor. Quaisquer que sejam as tarefas que vos forem confiadas, em qualquer parte do mundo em que vos encontreis, o Papa deve poder contar com sacerdotes que, na oração como no trabalho, não se poupem em levar a Sua proximidade aos povos e às Igrejas com seu testemunho.

Agradeço mais uma vez pela docilidade e abnegação com que, neste último ano, vós vos dedicastes em contextos tão diversos e abençoo de coração o início do vosso ministério no serviço diplomático da Santa Sé. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Nos 500 anos de nascimento de Palestrina


Depois de ouvir essas vozes angelicais, seria quase melhor não falar e nos deixar levar por essa belíssima experiência... 

Giovanni Pierluigi da Palestrina foi, na história da Igreja, um dos compositores que mais contribuiu para a promoção da música sacra, para «a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis», no delicado e ao mesmo tempo empolgante contexto da Contra-Reforma. Suas composições, solenes e austeras, inspiradas no canto gregoriano, unem estreitamente música e liturgia, «tanto dando à oração uma expressão mais suave e favorecendo a unanimidade, como enriquecendo com maior solenidade os ritos sagrados» 

A polifonia em si, por sua vez, é uma forma musical carregada de significado, para a oração e para a vida cristã. Antes de tudo, ela se inspira no Texto sagrado, que se propõe a «vestir com adequada melodia» para que chegue melhor «à inteligência dos fiéis». 

Graças a essa riqueza de forma e conteúdo, a tradição polifônica romana, além de nos ter deixado um imenso patrimônio de arte e espiritualidade, continua a ser hoje, no campo musical, um ponto de referência a ser considerado, ainda que com os devidos ajustes, na composição sacra e litúrgica, para que através do canto «os fiéis participem plenamente, conscientemente e ativamente da liturgia» (Sacrosanctum Concilium, 14), com profundo envolvimento de voz, mente e coração. De tudo isso, a Missa Papae Marcelli, em seu gênero, é um exemplo por excelência, assim como o precioso repertório de composições deixado por nosso inesquecível Cardeal Domenico Bartolucci, ilustre compositor e, por quase cinquenta anos, diretor da Cappella Musicale Pontificia “Sistina”.

Texto completo aqui. 

Audiência Geral - A Cura do Paralítico


Continuemos a contemplar Jesus que cura. Hoje gostaria de vos convidar a pensar de modo especial nas situações em que nos sentimos “bloqueados” e fechados num beco sem saída. Com efeito, às vezes parece-nos que é inútil continuar a esperar; resignamo-nos e já não queremos lutar. Esta situação é descrita nos Evangelhos com a imagem da paralisia. Por isso, hoje gostaria de meditar sobre a cura de um paralítico, narrada no quinto capítulo do Evangelho de São João (5, 1-9).

Jesus vai a Jerusalém para uma festa dos judeus. Não vai imediatamente ao Templo; detém-se perto de uma porta, onde provavelmente se lavavam as ovelhas que depois eram oferecidas nos sacrifícios. Perto daquela porta paravam também muitos doentes que, ao contrário das ovelhas, eram excluídos do Templo por serem considerados impuros! Assim, é o próprio Jesus que vai ao encontro deles na sua dor. Estas pessoas esperavam um milagre que pudesse mudar o seu destino; com efeito, ao lado da porta havia uma piscina, cujas águas eram consideradas taumatúrgicas, isto é, capazes de curar: em certos momentos, a água agitava-se e, segundo a crença daquela época, quem se imergisse primeiro ficava curado.

Assim, criava-se uma espécie de “guerra entre pobres”: podemos imaginar a triste cena destes doentes que se arrastavam cansativamente para entrar na piscina. Aquela piscina chamava-se Betesda, que significa “casa da misericórdia”: poderia ser uma imagem da Igreja, onde se reúnem os doentes e os pobres, onde o Senhor vem para curar e dar esperança.

Jesus dirige-se especificamente a um homem que está paralisado há trinta e oito anos. Já está resignado, porque nunca consegue imergir-se na piscina quando a água se agita (cf. v. 7). Com efeito, muitas vezes o que nos paralisa é precisamente a desilusão. Sentimo-nos desanimados e corremos o risco de cair na preguiça.

A este paralítico Jesus faz uma pergunta que pode parecer supérflua: «Queres ficar curado?» (v. 6). No entanto, é uma pergunta necessária, pois quando se está bloqueado há tantos anos, pode faltar até a vontade de se curar. Às vezes preferimos permanecer na condição de doentes, obrigando os outros a cuidar de nós. É por vezes até um pretexto para não decidir o que fazer da nossa vida. Jesus, pelo contrário, remete este homem para o seu desejo mais verdadeiro e profundo.

Efetivamente, este homem responde de maneira mais articulada à pergunta de Jesus, revelando a sua visão da vida. Em primeiro lugar, diz que não tem ninguém que o mergulhe na piscina: portanto, a culpa não é dele, mas dos outros que não cuidam dele. Esta atitude torna-se pretexto para evitar as próprias responsabilidades. Mas é realmente verdade que não havia ninguém que o ajudasse? Eis a resposta iluminadora de Santo Agostinho: «Sim, para ser curado, tinha absolutamente necessidade de um homem, mas de um homem que também fosse Deus. [...] Portanto, chegou o homem que era necessário; porquê continuar a adiar a cura?» (Homilia 17, 7).

Depois, o paralítico acrescenta que, quando procura entrar na piscina, há sempre alguém que chega antes dele. Este homem exprime uma visão fatalista da vida. Pensamos que as coisas nos acontecem porque não temos sorte, porque o destino nos é adverso. Este homem está desanimado! Sente-se derrotado na luta da vida.

No entanto, Jesus ajuda-o a descobrir que a sua vida está também nas suas mãos. Convida-o a levantar-se, a sair da sua situação crónica e a pegar na sua maca (cf. v. 8). Aquele catre não deve ser deixado nem abandonado: representa o seu passado de doença, é a sua história. O passado bloqueou-o até àquele momento; obrigou-o a ficar deitado como um morto. Agora é ele que pode pegar naquela maca e levá-la para onde quiser: pode decidir o que fazer com a sua história! Trata-se de caminhar, assumindo a responsabilidade de escolher que caminho seguir. E isto graças a Jesus!

Caríssimos irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor o dom de compreender onde a nossa vida se bloqueou. Procuremos dar voz ao nosso desejo de cura. E oremos por todos aqueles que se sentem paralisados, que não veem uma saída. Peçamos para voltar a habitar no Coração de Cristo, que é a verdadeira casa da misericórdia!