A Igreja de Roma é herdeira de uma grande história, enraizada no testemunho de Pedro, de Paulo e de inúmeros mártires, e tem uma única missão, muito bem expressa pelo que está escrito na fachada desta Catedral: ser Mater omnium Ecclesiarum, Mãe de todas as Igrejas.
Nos Atos dos Apóstolos (cf. 15, 1-2.22-29) narra-se, em particular, como a comunidade primitiva enfrentou o desafio da abertura ao mundo pagão no anúncio do Evangelho.
Paulo e Barnabé subiram a Jerusalém. Não decidiram por conta própria: procuraram a comunhão com a Igreja mãe e foram até lá com humildade.
Ali encontraram Pedro e os Apóstolos, que os ouviram. Assim se iniciou o diálogo que finalmente levou à decisão correta: reconhecendo e considerando as dificuldades dos neófitos, concordou-se em não lhes impor encargos excessivos, mas limitar-se a pedir o essencial (cf. Act 15, 28-29). Assim, o que poderia parecer um problema, tornou-se para todos uma ocasião de reflexão e crescimento.
Eles escrevem: «o Espírito Santo e nós próprios resolvemos» (Act 15, 28). Enfatizam, portanto, que a atitude mais importante em toda a questão – aquela que tornou possível todo o resto – foi a escuta da voz de Deus. Assim, eles nos lembram que a comunhão se constrói primeiramente “de joelhos”, na oração e num compromisso contínuo de conversão.
Também o Evangelho nos reafirma esta mensagem (cf. Jo 14, 23-29), dizendo-nos que não estamos sozinhos nas escolhas da vida. O Espírito nos sustenta e nos indica o caminho a seguir, “ensinando-nos” e “lembrando-nos” tudo o que disse Jesus (cf. Jo 14, 26).
Em primeiro lugar, o Espírito nos ensina as palavras do Senhor, gravando-as profundamente em nós, segundo a imagem bíblica da lei escrita não mais em tábuas de pedra, mas nos nossos corações (cf. Jr 31, 33); um dom que nos ajuda a crescer até nos tornarmos “carta de Cristo” (cf. 2 Cor 3, 3) uns para os outros. E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações.
Quanto a mim, expresso o desejo e o compromisso de entrar neste vasto canteiro, colocando-me, na medida do possível, à escuta de todos, para aprender, compreender e decidir juntos: «para vós sou Bispo, convosco sou cristão», como dizia Santo Agostinho (cf. Sermão 340, 1). Peço-vos que me ajudem a fazê-lo num esforço comum de oração e caridade, recordando as palavras de São Leão Magno: «Todo o bem realizado por nós no exercício do nosso ministério é obra de Cristo, e não nossa; pois nada podemos sem Ele, mas é n’Ele que nos gloriamos, d’Ele que provém toda a eficácia da nossa ação» (Sermão 5, De natali ipsius, 4).
Para concluir, gostaria de acrescentar a essas palavras aquilo que disse o Beato João Paulo I, que em 23 de setembro de 1978, com o rosto radiante e sereno que já lhe valera o apelido de “Papa do sorriso”, assim saudou a sua nova família diocesana: «São Pio X – dizia ele – entrando como Patriarca em Veneza, exclamou em São Marcos: “Que seria de mim, venezianos, se não vos amasse?”. Eu digo aos Romanos coisa semelhante: posso assegurar-vos que vos amo, que só desejo começar a servir-vos e pôr à disposição de todos as minhas pobres forças, aquele pouco que tenho e sou» (Homilia na tomada de posse da Cátedra do Bispo de Roma, 23 de setembro de 1978).
Também eu vos expresso todo o meu carinho, com o desejo de partilhar convosco, no caminho comum, alegrias e dores, cansaços e esperanças. Também eu vos ofereço “o pouco que tenho e que sou”, e confio-o à intercessão dos Santos Pedro e Paulo e de tantos outros irmãos e irmãs, cuja santidade iluminou a história desta Igreja e as ruas desta cidade. Que a Virgem Maria nos acompanhe e interceda por nós.
Texto completo aqui.
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